Com dívidas que somam R$ 4,4 bilhões, a Cervejaria Petrópolis, fabricante das marcas Itaipava, Petra e Cristal, que possui oito fábricas no Brasil e emprega cerca de 24 mil trabalhadores, é mais uma vítima da política de juros altos do Banco Central (BC).
A empresa entrou com um pedido de recuperação judicial na última segunda-feira (27), alegando uma crise financeira que já dura 18 meses causada pela perda de receita e pelo aumento da Selic – taxa básica de juros do país, definida pelo BC, que hoje está em 13,75%. Os cálculos apontam um prejuízo de R$ 395 milhões por ano à cervejaria por causa da queda nas vendas e dos juros exorbitantes.
Na petição apresentada à Justiça, o grupo alega que “a combinação desses fatores, exógenos e alheios ao controle das requerentes, gerou uma crise de liquidez sem precedentes no Grupo Petrópolis, que comprometeu seu fluxo de caixa a ponto de obrigá-lo a buscar a proteção legal com o ajuizamento deste pedido de recuperação judicial”.
No pedido, a empresa pede bloqueio de cobrança de dívidas e liberação de saldos bloqueados da empresa em bancos. A cervejaria ainda tenta postergar o vencimento, que ocorreu no mesmo dia 27, de uma parcela de R$ 105 milhões referente a uma operação financeira, que de acordo com os advogados poderia ‘comprometer a operação da empresa’.
Juros altos afetam outras empresas
O caso da Cervejaria Petrópolis não é foi o único a ganhar destaque nos últimos dia. A rede varejista Amaro, que tem 19 lojas em 12 cidades brasileiras e atua também pela internet, acumulou nos últimos anos uma dívida de R$ 244,6 milhões e, por isso, pediu entrou com um pedido de ‘recuperação extrajudicial’ na 3ª Vara de Falências de São Paulo.
Assim como alegou a Petrópolis, a rede Amaro também culpou a alta taxa de juros para justificar o pedido. Em 2022 a empresa tomou crédito de duas instituições – o Itaú e o Santander – para manter o fôlego financeiro até que investimentos fossem captados junto a um outro banco especializado.
No entanto, a empresa alegou que o setor de varejo tem sido impactado com a alta taxa de juros e que, junto com problemas internos, o passivo (as dívidas) aumentaram nos últimos anos.
Todos os setores contra os juros
A alta taxa Selic, mantida pelo Banco Central em 13,75% na última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), no dia 23 de março, é repudiada pelos mais diversos setores da sociedade. Do presidente da República a lideranças da indústria e do comércio, ninguém acredita que a taxa alta vai permitir que o Brasil cresça e se desenvolva.
No dia em que eu o Copom decidiu manter a taxa em 13,75% ao ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mais uma vez, veio a público para criticar a taxa. Por uma lei sancionada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o BC é independente, ou seja, define por si só, a política a ser adotada nos juros.
“Eu digo todo dia. Não tem explicação para nenhum ser humano no planeta terra a taxa de juros no Brasil estar a 13,75%. Não existe explicação, então, como presidente da República, eu não posso ficar discutindo cada relatório do Copom. Não posso. Eles paguem o preço pelo que estão fazendo. A história julgará cada um de nós”, afirmou Lula.
Presidente de uma das maiores redes varejistas do país, o Magazine Luiza, a empresária Luiza Trajano, também criticou os juros. “Podemos deixar o juro do jeito que está? Está tendo consumo? Não. Nós temos que nos unir para baixar o juro”, disse ela. “Um país como o nosso só tem duas coisas a fazer: dar renda e crédito. Agora, com um juro que não baixou, não vai ter crédito para ninguém”, disse a empresária.
Na véspera da última reunião do Copom, o presidente da Fiesp, Josué Gomes, classificou como “pornográficas” as taxas de juros no Brasil. Ele ainda frisou que, sem redução da Selic, “não adianta fazer política industrial”.
No dia 21 de março, a CUT, centrais sindicais e movimentos populares realizaram protestos em todo o país contra a política de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, alinhado à ideologia bolsonarista. Seu mandato vai até 2024, mas os movimentos exigem sua saída imediata para que os juros baixem e o país possa voltar a crescer e se desenvolver, gerando emprego e renda.
A justificativa de Campos Neto para tal política é de que a Selic alta controla a inflação. No entanto, especialistas em economia afirmam que há outras formas de conter a inflação e que a Selic alta é fator determinante para que haja recessão.
Ao mesmo tempo em que as dívidas e linhas de crédito ficam mais caras, os investimentos são reduzidos, já que há uma migração dos recursos para aplicações financeiras, onde os ganhos serão maiores.
Fonte: CUT