Milhares de trabalhadores e trabalhadoras de Porto Alegre e da Região Metropolitana estão há cinco dias sem luz em consequência dos temporais do último domingo (6) no Estado. Indignados, moradores realizaram vários protestos diante da longa demora para restabelecer a energia.
A injustificável falta de luz ocorre há menos de um ano da privatização da Companhia Estadual de Distribuição de Energia Elétrica (CEEE-D), vendida ao Grupo Equatorial Energia em 31 de março de 2021 pelo governo Eduardo Leite (PSDB), em leilão com lance único por míseros R$ 100 mil.
Descaso com a população
A faxineira Zélia Terezinha Paula Sito mora na Rua Wenceslau, na Vila Santa Isabel, em Viamão. Ainda está sem luz desde o último domingo. Ela contou que de lá para cá vem fazendo contato diariamente com a Equatorial. Três equipes já vieram até a sua residência, mas, apesar das promessas, a energia não voltou até agora.
Para não perder os alimentos na geladeira, Zélia usa a energia de um vizinho que possui linha trifásica. Ela e seus familiares tomam banho de caneca com água que esquentam no fogão. “É um descaso com a população”, desabafou.
Protestos
Moradores de várias cidades, que perderam alimentos, trabalho e renda, já fizeram protestos. Em Porto Alegre, foram montadas barricadas e ateado fogo em pedaços de madeira no bairro São João. Houve também manifestações no bairro São José e Vila Vargas, no Morro da Cruz, dentre outras comunidades.
Em Viamão, manifestantes colocaram fogo em pneus para bloquear a Avenida Paraguassu, no bairro Jari. No km 121 da BR-290, em Eldorado do Sul, teve bloqueio total no trecho. Teve ainda protestos em Alvorada, Esteio, Gravataí, Sapucaia do Sul e Canoas.
Demissões em massa, precarização e terceirização
O Sindicato dos Eletricitarios do Rio Grande do Sul (Senergisul) divulgou uma nota com “esclarecimentos à população e veículos de imprensa sobre as dificuldades de atendimento da Equatorial“.
A entidade ressalta que a longa demora para restabelecer a energia é resultado das demissões em massa de trabalhadores e trabalhadoras, após a implantação de um plano de demissão voluntária (PDV) pela Equatorial Energia logo depois da privatização da CEEE-D.
Para o presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, “os esclarecimentos são mais do que oportunos e ajudam a entender melhor o que está acontecendo, uma vez que a imprensa tradicional está mais preocupada em defender a privatização da CEEE e a política nefasta do governo Leite de entrega do patrimônio público, escondendo o desmonte da empresa pública, a precarização e a terceirização irrestrita dos serviços”.
Cinco dias após a falta de luz, a Equatorial divulgou uma nota pelo Twitter nesta sexta-feira (11), onde pediu “desculpas pelo transtorno” e informou que já foi restabelecida a energia para “mais de 162 mil clientes”. Segundo a imprensa, cerca de 10 mil moradores ainda continuam sem luz, dos quais 3 mil na Capital.
Os deputados estaduais Sofia Cavedon (PT) e Jeferson Fernandes (PT) e o vereador porto-alegrense Jonas Reis (PT) se reuniram nesta sexta-feira com representantes do Ministério Público do Rio Grande do Sul para cobrar providências sobre as falhas no fornecimento de energia pela Equatorial.
No encontro, o promotor Gustavo de Azevedo e Souza Munhoz, coordenador do Centro de Apoio do Consumidor e da Ordem Econômica do MP-RS, informou que o órgão estuda abrir um inquérito para apurar a situação. Uma reunião entre MP-RS e representantes da Equatorial está prevista para a próxima segunda-feira (14).
Representantes da Defensoria Pública do Estado (DPE-RS) também se reuniram com advogados da Equatorial para cobrar soluções, após a Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Agergs) anunciar que a empresa receberá sanções devido ao não cumprimento do contrato assinado.
A Defensoria pediu um plano estruturado – de curto, médio e longo prazos – para atender as reclamações dos consumidores por falta de energia diante das enormes dificuldades de contato com a empresa.
O Instituto de Defesa do Consumidor (Procon) de Porto Alegre informou que também notificou a Equatorial para que explique a demora na retomada do fornecimento de energia. O órgão adiantou que é possível haver aplicação de multa ao final da investigação.
Fonte: CUT