O presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um balanço dos 100 primeiros dias do seu governo reforçando sua “obsessão” em reduzir os juros para fazer a economia popular voltar a girar e a reinserção do Brasil nos grandes temas diplomáticos internacionais. As declarações foram dadas nesta manhã de quinta-feira (6), durante conversa com a imprensa em Brasília.
Lula, porém, reforçou que o crescimento da economia tem de passar pela redução da taxa de juros, a Selic, que hoje se encontra em 13,75%- a maior do mundo. Como o Banco Central (BC) se tornou independente no governo do seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), a atual gestão não pode interferir na taxa, nem destituir o presidente do BC, Roberto Campos Neto, sem o aval do Congresso Nacional. No entanto, o presidente disse que pode indicar novos diretores, “porque a lei manda assim, alguns diretores estão saindo, e vou escolher nomes afinados com o que pensamos e de acordo com as regras”.
“Não vou ficar brigando com o presidente do Banco Central. Daqui a dois anos ele sai, nós indicamos outro”, disse Lula, pontuando que não há nenhum plano de forçar uma saída antecipada de Roberto Campos Neto da presidência do BC.
Meta da inflação e reação do ‘mercado’
O presidente criticou também o fato de Campos Neto ter dito na semana passada, em entrevista, que precisaria fazer a taxa de juros ser 26% para estancar a alta prevista para a inflação brasileira (que está acima da meta de 4,5%, e isso é atribuição central do BC), o presidente foi duro. “Essa é uma coisa no mínimo não razoável para ser dita”, reagiu. “Como um empresário vai tomar um empréstimo com essa taxa de juros?”. Neste ponto, Lula disse que seria mais fácil mudar a meta de inflação, e não falar em taxa de juros básica de 26%.
Alguns dos jornalistas presentes passaram a informação truncada para suas redações e a fala chegou ao mercado financeiro antes mesmo do fim da conversa. O presidente antes de encerrar a conversa com os jornalistas deixou claro que jamais havia falado em mudar a meta de inflação. E, de fato, não falou. Houve a compreensão, entre alguns repórteres, de que ele havia dito que mudaria a meta – ele não disse isso; os repórteres insistiram em registrar o que haviam “compreendido”, segundo o jornalista Luís Costa Pinto, do Brasil 247, que esteve presente ao encontro.
“Vamos fazer a economia voltar a crescer, voltar a acontecer. E, para isso, é preciso ter crédito. Não é possível um país crescer com taxas de juros de 15%, 17%, 30%”, realçou. “É preciso ter crédito para o agronegócio, para os pequenos e microempresários, para os agricultores familiares, para os empreendedores individuais”.
Indústria automobilística
Segundo o presidente da República, o “companheiro Alckmin” (Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, foi instado a chamar os executivos da indústria automobilística e os líderes sindicais das regiões que têm produção automotiva para que juntos estruturem um programa destinado a fazer com que o setor retome investimentos, crescimento e geração de empregos.
“Em 2010, quando deixei meu segundo mandato, o Brasil matriculava 3,8 milhões de automóveis novos por ano. E a expectativa que se tinha naquela época era que a gente estivesse agora em 2023 matriculando 6 milhões de carros no Brasil. Hoje, não conseguimos matricular nem metade daqueles 3,8 milhões de carros novos por ano no país. Então, tem um problema. E o Governo, as empresas e os sindicatos estão sendo chamados para resolver”, afirmou.
Privatizações e Petrobras
O presidente voltou a reforçar o seu discurso de campanha que não vai privatizar empresas e que “ quem quiser investir no Brasil vai ter de criar algo novo”.
Sobre a Petrobras, Lula lembrou que mandou suspender a venda de ativos da estatal. “De 44 ativos que estavam sendo postos à venda, foram retirados 38 da relação”.
O presidente Lula disse também que determinou ao ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, e comunicado ao presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que era preciso “abrasileirar o preço da gasolina”.
“O Brasil não tem que estar submetido à PPI [Política de Preços Internacionais]. “Quero discutir a política de preços da Petrobras e também a política de investimentos da empresa. Não é possível a manutenção desses pagamentos de dividendos da Petrobras. O Brasil todo precisa dos investimentos da Petrobras”, asseverou.
Políticas públicas
Lula disse estar muito satisfeito por retomar as políticas sociais que deram certo. Ele se referia, sobretudo, aos programas Bolsa Família, Mais Médicos e Minha Casa, Minha Vida, que haviam sido explicitados pelo ministro Paulo Pimenta em pequena introdução à fala presidencial.
“A minha obsessão nos primeiros 100 dias era retomar as políticas sociais que deram certo. Agora, a obsessão é fazer a economia voltar a crescer, voltar a funcionar, para pôr o pobre no orçamento, para fazer a massa salarial crescer, para fazer quem ganha mais, pagar mais impostos; e quem ganha menos, pagar menos impostos”, declarou o presidente da República.
Com Brasil 247