Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), anunciou nesta quarta-feira (19) que mantém a taxa básica de juros da economia brasileira (Selic) em 10,5% ao ano. A justificativa da autoridade monetária para a decisão é a expectativa futura de suposta tendência de aumento da inflação e de desvalorização do Real.
O economista da subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) na Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Gustavo Cavarzan, explica que a Selic tem influência importante no desempenho econômico do país.
“Juros altos prejudicam o governo, com aumento de custos no pagamento dos títulos da dívida pública, reduzindo recursos para outras áreas importantes, como saúde e infraestrutura. A Selic também influencia nos juros de todo o sistema financeiro, com isso, o crédito fica mais caro para famílias e empresas, aumentando o endividamento e, ao mesmo tempo, impedindo investimentos na economia real e, portanto, na criação de mais empregos”, resumiu.
A presidenta da Contraf-CUT e vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores, Juvandia Moreira, destacou que o Brasil segue com a inflação sob controle e, portanto, as justificativas do Copom são falhas e prejudicam diretamente uma das obrigações do BC, que é colaborar com aumento do nível de empregos no país.
“Usar o argumento de se preparar para expectativas futuras de inflação maior é uma falácia. A manutenção da Selic alta é proibitiva ao crescimento econômico e apenas reafirma que o órgão é suscetível às pressões do mercado financeiro e, assim, desvia das responsabilidades para com o país”, pontuou. “Os principais beneficiados com a Selic elevada são os detentores dos títulos da dívida pública, que atualmente são as instituições financeiras”, completou.
A última vez que o Copom reduziu a Selic foi na reunião imediatamente anterior a desta semana, realizada em maio, quando o índice caiu 0,25 ponto percentual. Naquele encontro, a entidade monetária iniciou a alteração do ciclo de cortes de 0,50% a cada encontro, realizada desde agosto de 2023, por conta da pressão de trabalhadores, setores produtivos e do Governo Federal.
Uma arma política?
No início da semana, em entrevista à rádio CBN, o presidente Lula fez duras críticas ao Banco Central. “Nós só temos uma coisa desajustada no Brasil neste instante. É o comportamento do Banco Central”, pontuou. “Um presidente do Banco Central que não tem nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que pra ajudar o país. Porque não tem explicação a taxa de juros do jeito que está”, completou.
O mandato do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, termina em dezembro de 2024. A expectativa, portanto, é que, a partir de 2025, o nome que será indicado por Lula para assumir o cargo, esteja alinhado com o plano de governo petista, de retomada de investimentos em infraestrutura e na indústria nacional, e com o pleno emprego.
“O Copom se tornou um verdadeiro instrumento político e com forte capacidade de travar a economia, como estamos vendo na gestão Campos Neto, que tem realizado diversas movimentações político-partidárias, como ir a um almoço oferecido para ele, pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), recentemente”, destacou o secretário de Assuntos Socioeconômicos da Contraf-CUT, Walcir Previtale.
Por causa da aproximação entre Campos Neto e políticos, a bancada do PT na Câmara dos Deputados protocolou uma ação popular, nesta quarta-feira (19), contra o presidente do BC.
“Essa ostensiva motivação político-partidária, amplamente noticiada na mídia, evidencia um potencial envolvimento com políticas privadas de interesse de um estreito grupo econômico em detrimento ao interesse público, o que pode afetar diretamente a imparcialidade do Banco Central, em uma clara atitude que contraria os princípios norteadores da administração pública previstos na Constituição Federal”, disse a bancada do PT no documento.
Fonte: CUT