A Coordenadora das Centrais Sindicais do Cone Sul (CCSCS), da qual a CUT faz parte, encerrou nesta quinta-feira (11) o seminário “O Mundo do Trabalho e o Acordo Mercosul–União Europeia”, com a divulgação da Carta de Foz do Iguaçu. O documento reforça a posição unificada do movimento sindical de rechaço ao texto do acordo, considerado prejudicial à integração regional e aos direitos dos trabalhadores.
Realizado nos dias 10 e 11 de setembro na sede da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), em parceria com a Fundação Friedrich Ebert (FES), o encontro reuniu lideranças sindicais dos quatro países membros do Mercosul, representantes do governo, acadêmicos e estudantes. Entre as presenças de destaque estiveram o presidente do Parlasul, deputado Arlindo Chinaglia, a representante do Ministério do Trabalho do Brasil Maíra Lacerda e Silva, e o embaixador Philip Fox-Drummond Gough, do Ministério das Relações Exteriores.
Debates
Durante dois dias, as mesas de trabalho abordaram a trajetória de mais de 25 anos de negociações entre os dois blocos e os possíveis impactos do acordo no emprego, na indústria e nas políticas de integração regional. Houve espaço tripartite – trabalhadores, empregadores e governo – para a apresentação de análises acadêmicas, estudos econômicos e posicionamentos políticos.
Quintino Severo, secretário-adjunto de Relações Internacionais da CUT e secretário-geral da CCSCS, avaliou o seminário como um passo decisivo para articular a resistência sindical:
“Conseguimos reunir lideranças dos quatro países do Mercosul, além de representantes do governo e da academia, em um debate de muita qualidade. O acordo, do jeito que está, não traz benefícios para trabalhadores nem para o desenvolvimento regional. Nosso desafio agora é intervir nos parlamentos e garantir mecanismos de participação social”, afirmou.
Segundo Quintino, a estratégia inclui ações conjuntas com a Confederação Europeia de Sindicatos, que participou das discussões e sinalizou apoio à pressão por mudanças no texto antes de sua eventual ratificação no Parlamento Europeu e nos congressos nacionais do Mercosul.

Carta de Foz do Iguaçu
O documento aprovado ao final do encontro detalha os riscos que, na visão sindical, o acordo representa:
- Negociação sem transparência e assimetrias ignoradas – O processo teria ocorrido “às costas da sociedade”, desconsiderando diferenças estruturais entre os blocos.
- Risco de desindustrialização e desintegração produtiva – O texto favorece regiões com maior infraestrutura de transporte, podendo desestimular investimentos em países menos competitivos.
- Lógica comercial “colonial” – Acordo privilegia exportação de commodities e importa bens industrializados, fortalecendo setores como agronegócio, mineração e extração de madeira, historicamente marcados por violações de direitos trabalhistas e ambientais.
- Proteção insuficiente de direitos – O movimento sindical defende que a Declaração Sociolaboral do Mercosul, as legislações nacionais e as normas da OIT sejam o piso, não o teto, para salvaguardar conquistas e ampliar direitos.
- Ausência de estudos de impacto – É exigido que os governos realizem análises detalhadas dos efeitos sobre o emprego e a indústria, e não apenas projeções macroeconômicas.
Próximos passos
A Carta conclama a classe trabalhadora a “não baixar a guarda”, alertando que, mesmo com declarações de que o acordo pode ser assinado ainda este ano, há espaço para pressão social. A CCSCS pretende acompanhar as discussões nos parlamentos nacionais, no Parlasul e no Parlamento Europeu, buscando apresentar emendas e assegurar cláusulas de proteção sociolaboral.
Além disso, os sindicatos se comprometem a criar mecanismos de monitoramento permanente, capazes de identificar, com antecedência, impactos negativos como desemprego e desarticulação produtiva. “Precisamos intervir onde for possível para garantir que os trabalhadores não arquem com o custo desse acordo”, reforçou Quintino Severo.
Contexto geopolítico
O debate acontece em um cenário internacional de disputas comerciais. Tarifas impostas pelos Estados Unidos e tensões entre blocos econômicos pressionam o Mercosul a diversificar parceiros. Para o movimento sindical, porém, isso não pode justificar a assinatura de um texto que “reproduz uma lógica colonial e ameaça a soberania produtiva da região”.
A Carta de Foz do Iguaçu sintetiza a posição do seminário e será encaminhada às bases sindicais, aos parlamentos dos países do Mercosul e a organismos internacionais. Com isso, o sindicalismo regional reforça que não aceitará a ratificação do acordo Mercosul–União Europeia sem garantias de desenvolvimento industrial, proteção ambiental e ampliação dos direitos da classe trabalhadora.
Fonte: CUT